Dra. Rita Levi Montalcini
Presidente Honorária da
Associação Italiana
de Esclerose Múltipla
A neurologista italiana Dra. Rita Levi-Montalcini, que completou 103 anos no dia 22 de Abril de 2012,
recebeu o Prémio Nobel de Medicina quando tinha 77 anos.
Trechos da entrevista de
22/12/2005
E o que você faz?
Trabalho para dar uma
bolsa de estudos para as meninas africanas para que estudem e prosperem … elas
e seus países. E continuo investigando, continuo pensando.
Não vai se aposentar?
Jamais! Aposentar-se é
destruir o cérebro!
Muita gente se aposenta e
se abandona…E isso mata seu cérebro. E adoece.
Como está o seu cérebro?
Igual quando tinha 20
anos! Não noto diferença em ilusões nem em capacidade. Amanhã vou para um
congresso médico.
Mas terá algum limite
genético ?
Não. Meu cérebro vai ter
um século… mas não conhece a senilidade… O corpo se enruga, não posso evitar,
mas não o cérebro!
Como faz isso?
Possuímos grande
plasticidade neural, ainda quando morrem neurónios, os que restam se
reorganizam para manter as mesmas funções, mas para isso é conveniente
estimulá-los!
A chave é manter
curiosidades, empenho, ter paixões…veja…não me refiro a paixões físicas
especificamente…simplesmente tenha paixões.
A sua foi a investigação
científica…
Sim e segue sendo.
Descobriu como crescem e
se renovam as células do sistema nervoso…
Sim, em 1942 dei o nome
de Nerve Growth Factor (NGF, factor do crescimento nervoso), e durante quase
meio século houve dúvidas, até que foi reconhecida a sua validade e em 1986, me
deram o prémio por isso.
Como foi que uma garota
italiana dos anos vinte converteu-se em neurocientista?
Desde menina tive o
empenho de estudar. Meu pai queria me casar bem, que fosse uma boa esposa, boa
mãe… E eu não quis. Fui firme e confessei que queria estudar.
Seu pai ficou magoado?
Sim, mas eu não tive uma
infância feliz, sentia-me feia, tonta e pouca coisa… Meus irmãos maiores eram
muito brilhantes e eu me sentia tão inferior…
Vejo que isso foi um
estímulo…
Meu estimulo foi também o
exemplo do médico Albert Schweitzer, que estava em África para ajudar com a
lepra. Desejava ajudar aos que sofrem, isso era meu grande sonho!
E você tem feito… com sua
ciência.
E, hoje, ajudando as
meninas da África para que estudem. Lutamos contra a enfermidade, a opressão da
mulher, além de outras coisas…
A religião trava o
desenvolvimento cognitivo?
A religião marginaliza
muitas vezes a mulher perante o homem, afastando-a do desenvolvimento
cognitivo, mas algumas religiões estão tentando corrigir essa posição.
Existem diferencias entre
os cérebros do homem e da mulher?
Só nas funções cerebrais
relacionadas com as emoções. Mas quanto às
funções cognitivas, não tem diferença alguma.
Por que ainda existem
poucas cientistas?
Não é assim! Muitos
descobrimentos científicos atribuídos a homens, realmente foram feitos por suas
irmãs, esposas e filhas.
É verdade?
A inteligência feminina
não era admitida e era deixada na sombra. Hoje, felizmente, tem mais mulheres
que homens na investigação cientifica: as herdeiras de Hipatia!
A sábia alexandrina do
século IV…
Já não vamos acabar
assassinadas nas ruas como ela foi. Claro, o
mundo tem melhorado algo…
A ideologia é emoção, é
sem razão?
A razão é filha da
imperfeição. Nos invertebrados tudo está programado, são perfeitos. Nós não. E,
ao sermos imperfeitos, temos recorrido à razão, aos valores éticos: discernir
entre o bem e o mal é o mais alto grau da evolução darwiniana!
Nunca se casou ou teve
filhos?
Não. Entrei no campo do
sistema nervoso e fiquei tão fascinada pela sua beleza que decidi dedicar todo
o meu tempo, a minha vida!
Qual é hoje seu grande
sonho?
Que um dia logremos
utilizar ao máximo a capacidade cognitiva dos nossos cérebros.
Quando deixou de sentir-se
feia?
Ainda estou consciente de
minhas limitações!
O que tem sido o melhor da
sua vida?
Ajudar aos demais.
O que você faria hoje se
tivesse 20 anos?
Mas eu estou
fazendo!!!!
fonte: blog Um Toque de Luz
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